No livro Face and Mask, Hans Belting localiza o surgimento de um tipo de teatro voltado para a ilusão, que vai predominar por séculos, até o surgimento do teatro épico e do teatro pós-dramático:
“Em seu tratado sobre técnica do teatro (publicado em 1657) o Abade D’Aubignac afirma que o principal objetivo do teatro é a ilusão (trompérie). Esta ‘mágica engenhosa do teatro’, ele postula, rouba os membros da audiência (que são imaginados como ausentes) de seus poderes naturais de percepção. Uma experiência que a audiência tem de uma comédia não é nada mais que um processo de alienation méntale, como se a pessoa não estivesse realmente no teatro. A cortina é introduzida em Paris em 1640; ela imediatamente cria as condições que, quando aberta, realidade e ficção não eram mais discerníveis uma da outra" (p.56).
Este é o princípio da quarta parede, que vai estruturar o teatro moderno, até que dramaturgos como Brecht e Gertrude Stein passam a questionar seu dispositivo, procurando formas de estabelecer ligações entre palco e platéia. Mais adiante no texto, Belting discorre sobre a poética aristotélica, afirmando que neste “texto, Aristóteles defende as artes miméticas contra o épico e contra a reinvindicação de que o gênero da história matinha um monopólio do realismo" (p. 62). Explica-se, assim, um dos motivos de Brecht chamar seu teatro de épico, apesar de ser tão diferente das narrativas épicas da antiguidade — a não ser, talvez, pela disposição em falar dos dilemas de seu tempo através de personagens exemplares. O termo surge, no dramaturgo alemão, em oposição ao teatro mimético de tradição aristotélica.