Uma perspectiva do tempo

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publicado originalmente no blog da Mostra Live Cinema http://www.livecinema.com.br/blog/715

A crítica especializada em imagens ao vivo é, geralmente, baseada na tradição de pensamento voltada ao audiovisual contemporâneo. Um universo bastante pertinente para pensar trabalhos em tempo real é o dos pensadores que dedicaram-se ao tema do tempo (ou questões relacionadas). Um exemplo é Bergson, que compartilho abaixo a partir de uma citação de Deleuze (Cinema II – A imagem-tempo, p. 103):

“As grandes teses de Bergson sobre o tempo apresentam-se assim: o passado coexiste com o presente que ele foi; o passado se conserva em si, como passado em geral (não-cronológico); o tempo se desdobra a cada instante em presente e passado, presente que passa e passado que se conserva. Repetidas vezes se reduziu o bergsonismo à seguinte idéia: a duração seria subjetiva, e constituiria nossa vida interior. E, sem dúvida, Bergson precisou se expressar assim, ao menos no começo. Mas, cada vez mais, ele dirá algo bem diferente: a única subjetividade é o tempo, o tempo não-cronológico apreendido em sua fundação, e somos nós que somos interiores ao tempo, não o inverso. Que estejamos no tempo parece um lugar comum, no entanto é o maior paradoxo. O tempo não é o interior em nós, é justamente o contrário, a interioridade na qual estamos, nos movemos, vivemos e mudamos. Bergson está bem mais perto de Kant do que pensa: Kant definia o tempo como forma de interioridade, no sentido em que somos interiores ao tempo (só que Bergson concebe essa forma bem diferente de Kant) No romance, será Proust quem saberá dizer que o tempo não nos é interior, mas somos nós, interiores ao tempo que se desdobra, que se perde e se reencontra em si mesmo, que faz passar o presente e conservar o passado. No cinema haverá talvez três filmes que mostram como habitamos o tempo, como nos movemos nele, nessa forma que nos leva, apanha e alarga: Zvenigora, de Dovjenko; Um corpo que cai, de Hitchcock; Eu te amo, eu te amo, de Resnais. No filme de Resnais, a hiperesfera opaca é uma das mais belas imagens-cristal, enquanto o que vemos no cristal é o tempo em pessoa, o jorrar do tempo.”