remix

Um ponto-de-partida para discutir o tema do remix é a contraposição entre montagem e colagem e suas reverberações entre termos como intermídia e multimídia.

Picasso / Dali

Burroughs / Godard

As práticas de montagem começam a ter outro sentido em leituras menos canônicas das linguagens visuais, como no caso de Warburg e sua leitura do movimento presente em gestos e curvas da pintura renascentista normalmente tida como estática, realista e dominantemente voltada para o campo do visível. Em Warburg, o vento surge como um fator de invisibilidade que desarranja o cabelo das personagens, imprime dobras em suas roupas e, ao fazê-lo, desarranja a forma como entedíamos até então o universo da visualidade. Do que já foi dito sobre as relações entre Warburg e o pré-cinema (por exemplo, no livro de Alain-Michaud sobre as relações entre o fundador da iconologia e o amadurecimento das tecnologias de imagem em movimento na passagem do século XIX ao XX), falta acrescentar que talvez seu discurso sobre imagens tenha inventado a concepção de espaço off, na medida em que ele leva em conta como este elementos invisíveis como o vento (ou possíveis interlocutores externos em certas esculturas) constituem a narrativa “em quadro”.

Não se trata de um fenômeno isolado, tampouco exclusivo do mundo das imagens. Em Freud and the Technical Media, Thomas Elsaesser parte de conceitos como memória, inconsciente ou o par arquivamento / resgate (de lembranças, que ele acredita poderem ser equiparadas a “dados”) para um contextualização bastante densa das relações entre psicanálise e teoria das mídias baseada no caráter textual que Freud atribui a fenômenos como os sonhos e as pulsões. Ao fazê-lo, ele aponta a existência de uma geração de pensadores que foi marcada pelo surgimento de tecnologias da memória (a fotografia, o cinema), entre os quais ele inclui Darwin, Benjamin, Nietzche e Kracauer. Além disso, ele sugere um entendimento de mecanismos que, na falta de uma palavra melhor, podem ser chamados de montagem ou escrita de imagens, muito mais complexo do que o mero encadeamento de elementos visuais em seqüências que se organizam seja no espaço seja no tempo. Deste ponto-de-vista, a abordagem de Elsaesser remete ao pensamento deleuziano sobre montagem (tributário do conceito de cinema de poesia formulado por Pasolini).

Num dos trechos do texto, ele estabelece uma relação entre Freud e Benjamin que, além de ser reveladora deste entendimento mais amplo das articulações não verbais e suas possibilidades, sugere também uma leitura mais sofisticada do que se costuma fazer do conceito de insconsciente ótico:

LOC 2596 OF 8355

É um bom ponto-de-partida para pensar o remix: a percepção como “sampling of data”, o que também estica o conceito de sampleagem para além da operação técnica de manipular amostras de material sonoro, visual ou videográfico já existente. A montagem (a seleção) como forma de gerir o bombardeio sensório-informacional a que os corpos dos homens são submetidos com intensidade cada vez maior.

Sandra Kogut, Parabolic People
http://laurentine.arscenic.tv/medias/films/article/parabolic-people-sandra-kogut?lang=fr

 

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Cronologia Lacunar

As colagens cubistas
http://www.radford.edu/rbarris/art428/cubism%20part%20two.html

As montagens surrealistas
http://dl-salvadordali.blogspot.com.br/2008/01/o-fenmeno-do-xtase-1933.html

Cut Ups, Burroughs

Orphée 51, de Pierre Schaeffer e Pierre Henry

(criado com o Morphophone, http://en.wikipedia.org/wiki/File:Morphophone.JPG e com o Phonogènes, http://en.wikipedia.org/wiki/File:L430xH465_jpg_Schaeffer_big-2eb70.jpg#/media/File:L430xH465_jpg_Schaeffer_big-2eb70.jpg)

Histoire(s) du Cinema, Godard
https://vimeo.com/42150241

War Pigs, Jim Andrews
http://vispo.com/vismu/warpigs/warpigs8.htm

Surplus, Erik Gandini

The Mashin of Christ, Negatvland