Um aspecto da virada sônica que vem se configurando tanto por meio de autores como Wolfgang Ernst, que tem se dedicado ao esforço de sistematizar as possibilidades do conhecimento a partir do som, como críticos das linguagens sonoras propriamente ditas, como Kahn e outros, talvez seja a rejeição ao olhar que marcou o Século 20. Robert Stam trata do tema, em Introdução à Teoria Crítica do Cinema:
“Implícita na noção de cultura visual tal como formulada por figuras como W.J.T. Mitchell, Irit Rogoff, Nick Mirzoeff, Anne Frielberg e Jonathan Crary, está uma rejeição ao esteticismo da história da arte convencional (incluindo a história da arte modernista), com sua ênfase sobre os gênios e as obras-primas e instituições. Em Technique of the Observer (1995), Crary sugere que a visão está sempre associada a questões de poder social. A cultura visual também procura resgatar o visual do opróbrio ao qual foi relegado por autores como, por exemplo, Neil Postman, que parecem considerar as imagens midiáticas inerentemente corrosivas do pensamento e da racionalidade. Alguns teóricos também situaram a teoria do dispositivo em um intertexto oculofóbico. Para Martin Jay (1994), a teoria do dispositivo nada mais é que uma pequena parte de uma longa história de difamação da visão no pensamento ocidental. O Iluminismo julgava a visão o mais nobre dos sentidos, ao passo que o século XX mostrou-lhe enorme hostilidade, seja na paranóica visão sartriana do regard d’autrui, na demonização de Débora da “sociedade do espetáculo”, na “crítica anteocular da ideologia” de Althusser, no ataque de Commolli à “ideologia do visível” ou na crítica foucaultiana do panóptico”. (p. 347)