“the history of every art form shows critical epochs in which a certain art form aspires to effects which could be fully obtained only with a changed technical standard, that is to say, in a new art form” (walter benjamin)
Vista da Passage Choiseul, em Paris (fonte: The Arcades Project / Wikipedia)
“Benjamin’s intention was to bring togheter theory and materials, quotations and interpretation, in a new constellation compared to contemporary methods of representation”(Rolf Tiedemann)
“In what way is it possible to conjoin a heightened graphicness <Anschaulichkeif> to the realization of the Marxist method? The first stage in this undertaking will be to carry over the principle of montage into history. That is, to assemble large-scale constructions oout of the smallest and most precisely cut components. Indeed, to discover in the analysis of the small individual moment the crystal of the total event”(Passagenwerk – N2,6)
Benjamin invented the term “dialectical images” for such configurations of the Now and Then; he defined their content as a “dialectic at a standstill.” Dialectical image and dialectic at the standstill are, without a doubt, the central categories of the Passagen-Werk.Their meaning, however, remained iridescent; it never achieved any terminological consistency. We can distinguish at least two meanings in Benjamin’s texts; they remaing somewhat undivulged, but even so cannot be brought totally in congruence. Once — in the 1935 exposé, which in this regard summarizes the motifs of the first draft — Benjamin localized dialectical images as dream and with images in the collective subconscious, whose “image-making fantasy, which was stimulated by the new” should refer back to the “Ur-past”: “In the dream, in which each epoch entertains images of its sucessor, the latter appears wedded to elements of Ur-history — that is, to elements of a classless society. And the experiences of such society — as stored in the unconscious of the collective — engender, through interpenetration with what is new, the utopia”(Exposé of 1935, section I). In turn, Ämbiguity is the manifest imaging of dialectic, the law of dialectics at a standstill. This standstill is utopia, and the dialectical image, therefore, dream image. Such as image is afforded by the commodity per se: as fetish”(Exposé of 1935, section V). — Rolf Tiedemann)
“In fact, Benjamin’s thinking was invariably in dialectical images. As opposed to the Marxist dialectic, which “regards every… developed social form as in fluid movement”, Benjamin’s dialectic tried to halt the flow of the movement, to grasp each becoming as being” (Rolf Tiedemann)
“To write history… means to cite history”(Passagenwerk – N3,2)
“Modest methodological proposal for the cultural-historical dialectic. It is very easy to estabilish oppositions, according to determinate points of view, within the various “fields” of any epoch, such that on one side lies the “productive”, “forward-looking”, “lively”, “positive” part of the epoch, and on the other side the abortive, retograde, and obsolescent. The very contours of the positive element will appear distinctly only insofar as this element is set off against the negative. On the other hand, every negation has its value solely as background for the delineation of the lively, the positive. It is therefore of decisive importance that a new partition be applied to this initially excluded, negative component so that, by a displacement of the angle of vision (but not of criteria!), a positive element emerges anew into it too — something different from that previously signified. And so on, ad infinitum, until the entire past is brought into the present in a historical apocatastasis.” (Walter Benjamin, The Work of the Arcades, N 1a,3)
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“Seria possível observar duas revoluções fundamentais na estrutura cultural, tal como se apresenta, de sua origem até hoje. A primeira, que ocorreu aproximadamente em meados do segundo milênio a.C, pode ser captada sob o rótulo ‘invenção da escrita linear’, e inaugura a História propriamente dita; a segunda, que ocorre atualmente, pode ser captada sob o rótulo ‘invenção das imagens técnicas’ e inaugura um modo de ser ainda dificilmente definível.”(Vilém Flusser, Filosofia da Caixa Preta, p. 14)
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Um dos vetores da arqueologia do mundo em rede aqui proposta é o estudo das formas de granularidade da linguagem, que expande o modelo de átomos-linguagem. Na passagem das culturas analógicas para as digitais, acontece uma mudança importante: a linguagem torna-se mais porosa, na medida em que se converte em algoritmo; plasmar texto não depende mais de uma matriz sólida que duplica as palavras; plasmar imagens não depende mais de um negativo que decalca por meio de luz os contornos do mundo; plasmar sons não depende mais do atrito entre corpo e instrumentos que vibram freqüências.
Un Coup de Dés _Mallarmé, publicado em 1897 na revista Cosmopolis
trecho do prefácio de Un Coup de Dés
(tradução de Haroldo de Campos)
“Gostaria de que esta Nota não fosse lida ou que, apenas percorrida, fosse logo esquecida; ela ensina, ao Leitor hábil, pouca coisa situada além de sua penetração: mas pode perturbar o ingênuo que de lançar os olhos para as primeiras palavras do Poema, a fim de que as seguintes, dispostas como estão, o encaminhem às útlimas, o todo sem novidade senão um espaçamento da leitura. Os “brancos” com efeito assumem importância, agridem de início, as versificação os exigiu, como silêncio em derredor, ordinariamente, até o ponto em que um fragmento lírico ou de pouco pés, ocupe, no centro, o terço mais ou menos de uma página: não transgrido essa medida, tão-somente a disperso. O papel intervém cada vez que uma imagem, por si mesma, cessa ou recede, aceitando a sucessão de outras, e como aqui não se trata, à maneira de sempre, de traços sonoros regulares ou versos — antes, de subdivisões prismáticas da Idéia, o instante de aparecerem e que dura o seu concurso, nalguma cenografia espiritual exata, é em sítios variáveis, perto ou longe do fio condutor latente, em razão de verosimilhança, que se impõe o texto.
(fonte: Campos, Augusto de; Campos, Haroldo de; Pignatari, Décio. Mallarmé. 3 ed. São Paulo: Perspectiva, 1991)
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Agora tudo indica que o livro, nessa forma tradicional, encaminha-se para o seu fim. Como se vislumbrando, no âmago da cristalina construção de sua escritura certamente tradicional, a vera imagem do vindouro. Mallarmé no COUP DE DÉS reelaborou pela primeira vez as tensões gráficas do reclame na figuração da escrita (Schriftbild) /…/ A escrita, que tinha encontrado asilo no livro impresso, para onde carreara o seu destino autônomo, viu-se inexoravelmente lançada à rua, arrastada pelos reclames, submetida à brutal heteronimia do caos econômico. Eis o árduo currículo escolar de sua nova forma. Se, ao longo de séculos, pouco a pouco, ela se foi deixando deitar o chão, da ereta inscrição ao oblíquo manuscrito jazendo na escrivaninha, até finalmente acamar-se no livro impresso, ei-la agora que se reergue lentamente do solo. O jornal quase necessariamente é lido na vertical — em posição de sentido — e não na horizontal; filme e anúncio impõem à escrita a plena ditadura da verticalidade. E antes que um contemporâneo chegue a abrir um livro, terá desabado sobre os seus olhos um turbilhão tão denso de letras móveis, coloridas, litigantes, que as chances de seu adentramento no arcaico estilo do livro já estarão reduzidas a um mínimo. Nuvens de letras-gafanhotos, que já hoje obscurecem o sol do suposto espírito aos habitantes de metrópoles, tornar-se-ão cada vez mais espessas, como a sucessão dos anos /…/ E o livro, hoje, como o atual modo de produção científica o demonstra, já é um mediador antiquado /…/ Pois tudo o que é essencial encontra-se no fichário do pesquisador, que o redigiu, e o intelectual, que o estuda /…/ Antes, chega o momento em que a quantidade se transforma em qualidade, e a escrita, avançando cada vez mais fundo no domínio gráfico de sua nova e excêntrica figuralidade, conquista de súbito os seus adequados valors objetais (Sachgehalte). Nesta escrita icônica (Bilderschrift), serão expertos da grafia (Schriftkundige), somente poderão colaborar se explorarem os domínios onde (sem muita celeuma) se perfaz sua construção: os do diagrama estatístico e técnico. Com a fundação de uma escrita de trânsito universal, os poetas renovarão sua autoridade na vida dos povos e assumirão um papel em comparação com o qual todas as aspirações de rejuvenescimento da retórica parecerão dessuetos devaneios góticos”
trecho de A língua percebida externamente
(Flusser, Vilém. Lingua e Realidade. p. 40-1)
“As palavras que chegam até nós através dos sentidos vêm organizadas. São agrupadas em obediência a regras preestabelecidas, formando frases. Quando percebemos palavras, percebemos uma realidade ordenada, um cosmos. O conjunto de frases percebidas e perceptíveis chamamos de língua. A língua é o conjunto de todas as palavras percebidas e perceptíveis, quando ligadas entre si de acordo com regras preestabelecidas. Palavras soltas, ou palavras amontoadas sem regra, o balbuciar e a ‘salada de palavras’, formam a borda, a margem da língua. São os extremos caóticos dos cosmos da língua. O estudo da língua tal como é percebida equivale à pesquisa de um cosmos. Dada a nossa definição da realidade como conjunto de palavras e de palavras in statu nascendi, é o estudo da língua possivelmente a única pesquisa legímita do único cosmos concebível.
Os elementos do cosmos da língua são as palavras. Correspondem a átomos dentro do cosmos democritiano, ou às mônadas dentro do cosmos leibnitziano. São percebidas como aglomerados de sons (quando ouvidas) ou de formas (quando lidas). São, portanto, divisíveis, tal como os átomos da física. Além de percebidas, são as palavras apreendidas. Como tais, são indivisíveis.”
“… this work — comparable in method to the process of splitting the atom — liberates the enormous energies of history that are bound up in the ‘once upon a time’ of classical historiography”
trecho de Passangerwerk que expande a analogia entre linguagem e cosmos / átomo presente também em Mallarmé e Flusser
(Benjamin, Walter. The work of the Arcades.p 463 – [N3,4])
“… o universo do homem moderno parece conter aquelas correspondências mágicas em muito menor quantidade que o dos povos antigos ou primitivos. A questão é se se trata de uma extinção da faculdade mimética ou de sua transformação. Embora indiretamente, a astrologia pode sugerir alguns indícios sobre essa metamorfose. Investigando as antigas tradições, podemos imaginar que certas configurações sensíveis tenham sido dotadas de características miméticas de que hoje não podemos suspeitar. As constelações são um exemplo.
trecho de A doutrina das semelhanças em que Benjamin discorre sobre o tema das constelações (outra configuração usada para se referir ao Lanc de Dados, muitas vezes descrito como um poema-constelação)
(Benjamin, Walter. A doutrina das semelhanças, in Obras Escolhidas – Magia e Técnica / Arte e Política. p. 109)
Trecho de Einbahnstrasse, de Walter Benjamin
(tradução de Haroldo de Campos)
“Nosso tempo está como que em contraposição frontal à Renascença, e especialmente em contraste com a conjuntura em que foi inventada a arte da imprensa. Casualidade ou não, o surgimento desta na Alemanha ocorre na época em que o livro, no sentido eminente do vocábulo, o Livro dos Livros na tradução da Bíblia por Lutero, torna-se um bem do domínio público.
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“… o marco divisório da linguagem poética de invenção, na modernidade, é a obra Un Coup de Dés de Mallarmé (1897)” (Augusto de Campos, em Questionário do Simpósio de Yale sobre Poesia Experimental, Visual e Concreta desde a década de 1960) — http://www2.uol.com.br/augustodecampos/yaleport.htm
Un coup de dés jamais n’abolira le hasard (@ Electronic Literature Directory) http://directory.eliterature.org/node/573
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The dialectics of seeing: Walter Benjamin and the Arcades project, de Susan Buck-Morss
http://books.google.com.br/books/about/The_dialectics_of_seeing.html?id=5Ejq67KMYoIC&redir_esc=y