Meditação no Espaço (Otávio Donasci)

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    marcus bastos
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    Criado com a câmera apontada para um monitor de TV, a obra tem aspectos dos trabalhos com animação e computação gráfico e primeiros sintetizadores de vídeo, mas obtém os padrões e texturas usados de modo diferente: pelo ajuste em tempo real dos controles da câmera, do zoom, e da posição da lente apontada para a TV. Entre os fatores que afeta a imagem, além dos processos eletrônicos resultantes do fechamento de circuito entre a câmera e o monitor de TV, há também a incidência da luz, que matiz as cores pelo reflexo na própria tela (segundo depoimento do artista sobre o processo de criação do vídeo). É isto que torna a obra uma exploração atípica do eco em vídeo, e talvez seja este processo de retroalimentação o responsável pelas texturas mais porosas que aparecem na obra (além de momentos de falha que são produzidos pelo processo de edição primitivo, usando dois VHS para emendar trechos). Um aspecto interessante do vídeo, do ponto-de-vista conceitual, é esta tensão entre imagem produzida em tempo real e material editado, e isto reverbera — indo além dos aspectos mais formais — para a tensão entre elementos mais abstratos e uma busca pela forma figurativa, que o artista obtém na imagem-pomba que encerra o vídeo. Quando fala da obra, Donasci considera esta pomba um ponto alto, por isso escolheu como imagem final da obra. É possível interpretar esta escolha como uma curiosa subversão do caráter abstratos das obras de síntese com que Meditação no Espaço dialoga. McLaren, Paik e outras artistas que fizeram pesquisas possíveis de serem relacionadas com este aspecto da produção de Donasci, investiram no desmonte da figura. Aqui, ocorre o contrário: um esforço por encontrar parâmetros para controlar as imagens abstratos ao ponto delas produzirem imagens visíveis, num processo que é praticamente um moldar dos elétrons.

    “É no final da década de 1970 que ocorrem as primeiras experiências de Otávio Donasci. Ele faz em 1976 trabalhos como Neurando Fermose e Cronos, realizados em super-8. Esses trabalhos de Donasci desconstroem o código audiovisual por meio de uma mistura de imagens de origens e contextos midiáticos diferentes, como filmes de Charles Chaplin, por exemplo, bem como trechos que extrai de forma aleatória de programas e vinhetas televisivas captados das TVs Globo e Record, tanto quanto faz apropriação, colagem e alteração sígnica também de músicas clássicas.

    Em 1981, Otávio Donasci aprofunda sua pesquisa advinda dos anos 1970, na medida em que intervém de forma mais direta no processo de captação e edição da imagem e som. Ele realiza nesse ano Figuras de umbral (pesquisa com rastro de vídeo por baixa iluminação), Meditação no espaço (pesquisa de eco de vídeo que utiliza câmera VHS e TV-monitor de 20 polegadas colorido ligado à câmera) e Projeções da memória (pesquisa com looping de super-8, solarização e sobreposição de laboratórios usando lentes e vidros óticos). No campo híbrido dos entrecruzamento entre o teatro e os espetáculos multimídia, também em 1981, Donasci gera as suas primeiras videocriaturas e desenvolve, desde então, a sua poética em torno das videoperformances interativas”.
    (in: Mello, Christine. Extremidades do Vídeo, p. 93)

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