Artes da mídia

O termo artemídia, que ganhou fluência em português, é um neologismo sem fundamento (no sentido que Flusser deu ao termo em Bodenlos). Como tradução criativa, empresta potência ao termo, juntando duas palavra em um composto, como nas palavras-valise de Lewis Carroll. Mas o termo original, o alemão medienkunst, deveria ser traduzido por artes da mídia ou artes mediáticas. Trata-se de substantivo e adjetivo, como bildwissenchaft, ciências da imagem ou ciências imagéticas, ou medienkultur, cultura da mídia. A tradução para inglês talvez confunda. Media art também sugere uma palavra composta, mas é de fato um substantivo modificado por adjetivo. Como em Art History, que é traduzido por História da Arte. A liberdade gramatical não prejudica o termo, pelo contrário, lhe empresta força poética. Assim como no modo literal de lidar com as palavras que faz Flusser inventar conceitos pelo delizamento semântico de certos termos, aqui temos um igual que é diferente. Mas esta semelhança diferente não acontece no plano semântico e sim no transporte entre idiomas. Ao abrir mão do conectivo que liga substantivo e adjetivo em português, a tradução que parece mais literal mas de fato é mais livre inaugura uma área própria, que curiosamente existe como expressão do idioma apenas em português, e minguou como expressão da cultura no Brasil. Perspicácias da linguagem e do como como as coisas se desenrolam.

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