The General Line (Eisentein)

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    marcus bastos
    Keymaster

    https://www.youtube.com/watch?v=-MISm-KQuwE

    The General Line, de Eisentein, até hoje desafia o senso comum em termos de enquadramentos e montagem. Enquanto o cinema norte-americano buscava naturalizar cada vez mais o olhar, outros cinemas como o francês e o russo não faziam tanta questão de adotar soluções transparentes, explorando o ritmo, a plástica e o fluxo de tempo (em acelerações e ralentamentos, no uso da mudança de luz como marca da passagem do tempo, na mostração de elementos da natureza como referências a épocas do ano) ao invés do simples foco no contar histórias.

    Vale prestar atenção em alguns procedimentos deste filme:
    (1) o encadeamento entre momentos muitas vezes acontece em estruturas ternárias; ao invés do simples plano e contraplano, há um plano, um olhar de um terceiro observador, o contraplano, outro plano, outro contraplano, de novo o olhar do terceiro observador, numa coreografia muito mais complexa do que a forma como os diálogos vieram a ser estruturados no cinema sonoro. Isto acontece de forma bastante evidente na cena dos irmãos após a apresentação inicial do ambiente da fazenda; eles discutem sob o olhar observador de Maria; depois serram a madeira, e ela olha os dois trabalhar — nesta seqüência há escolhas de ângulo e altura bastante ousados.

    (2) a descrição do ambiente, as panorâmicas e o progressivo fechamento do enquadramento para mostrar elementos da fazenda, logo no início do filme, é uma das coisas mais bem filmadas e montadas da história do cinema.

    (3) em certo sentido, o modo como Eisentein mostra os trabalhadores conversa com o projeto The Americans, de Walker Evans. De forma mais específica, mas com a mesma lógica apontada no item 1, aqui também há modos bem diferentes de mostrar os trabalhadores de um país e outro. No filme de Eisentein há ângulos inclinados e muitos momentos em que o homem divide a tela com outros elementos, por exemplo as cenas da datilógrafa na terceira parte do filme. Há em algumas destas imagens uma lógica de montagem interna ao enquadramento, completamente diferente do afastamento de olhar nas fotos de Evans (apesar do elo afetivo oferecido ao espectador).

    (4) O uso de closes procura dar sentido a detalhes significativos. Muitos dos closes tem uma autonomia na montagem, ao invés de apenas “ampliar” algo visto primeiro em plano mais aberto. Em um caso em particular, a fusão entre uma vaca que ocupa todo o quadro sobreposta a cena de uma manada, na seqüência da cooperativa bovina, há também o uso da sobreposição como recurso generalizante. Do grupo, a um conceito abstrato resultante da sua síntese num representante “único”. (Em Montage Eisentein, há bastante material para pensar o sentido ideológico deste tipo de procedimento)

     
     
     

    (5) Há repetição e estruturas reiterativas, que rompem com o tempo “presente” ao filme, e reforçam certos momentos / sugerem leituras menos representativas de certas imagens. Isto é bem usado em certos momentos em que se intercalam cartelas de texto e imagem, e os textos vão mudando de sentido conforme o desdobramento da seqüência.

    (6) A irônica cena do casamento como uma crítica ao cinema “romântico” (que Eisentein considera burguês, no sentido de optar por um modo de ver o amor ligado à constituição da classe média urbana)

    (7) As exibições feitas com a trilha sonora comissionada pelo BFI, a partir de anotações do próprio Eisentein, aproxima o filme de obras notórias pela relação composicional entre som e imagens em movimento, como por exemplo Koyaanisqats. Mas a obra de Eisentein tem uma complexidade maior, na medida em que mantém a força rítmica em meio a um enredo muito bem articulado, permeado tanto de descrições de ambiente lírica como da busca por soluções de montagem capazes de formular ideias abstratas (por exemplo, sobre o trabalho coletivo).

    https://www.youtube.com/watch?v=RCqJB0q-VRY

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